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Aos amantes do Direito, enquanto manifestação mais pura da Ética Filosófica, enquanto parte do estudo das Humanidades Clássicas; Aos amantes da Literatura, da Retória e da Estética; Aos amantes do Belo. A todos vocês, inclusive, os curiosos, ofereço este trabalho tão revigorante, as palavras que escondem dentro de si próprias maravilhosos significados, uma verdadeira aventura rumo à contemplação da Realidade, à libertação da mítica caverna de platônica, à redenção do gênero humano que é livre para conhecer, amar e servir.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Retorno em alto estilo

APOLOGIA FEMININA

“Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas”.

A vida, complexa como si só: de um lado a força e a bravura, doutro a delicadeza e o cuidado. Que angustura perceber o merencório olhar refém das águas, que apesar de contidas, modelam os fiordes noruegueses. Ergue-se a cada dia, para além do que aparentemente está posto ou que de forma rasa possamos imaginar, um império de aniquilamento da própria identidade feminina, a qual tem por fim o desequilíbrio social a partir das famílias, através dos valores.

Contemplar as mulheres de Atenas é ao mesmo tempo condoer-se com a realidade marginalizadora dos gineceus nos quais se aprisionam “donas de casa, professoras, bailarinas
moças operárias, prostitutas meninas”, nos dizeres de Joyce; é ver em pleno século da razão a mais vil demonstração de dominação e servilismo; é desenganar e desesperar-se ante o processo de imposição de imbecilização da mulher. Inadmissível!

A grande verdade é que em pouco, para ser generoso, evoluiu a sociedade ocidental, no que diz respeito à mulher. Compreendo que não só basta dar a essa parte tão especial da sociedade os lugares que lhes são de direito nas cátedras das universidades, nos grades conglomerados empresariais... mas é preciso inculcar que a mulher, para além da concepção de fragilidade, a qual entendo por rasa e falaciosa, e de minoria, ao menos na litigância ativa por seus direitos o é, que a lattere do homem, de sua costela se faz. O que quer dizer, em outras palavras, que qualquer afirmação de direito feminino tem de ser eivado de prudência, para que não se caia num reforço de algo que é de per si essencialmente fraco. Jamais!

A afirmação da identidade feminina positiva vai na contramão da exploração midiática, da pretérita Amélia, da mulher que busca no embelezamento, exclusivamente, a competição com seus pares e a caça de bons partidos, da mulher que deve compor um padrão escravizador, no qual ela não tem o direito de ser, mas de ser como as demais ou como o padrão. Logo ela passa a não-ser. Em síntese, é a mulher alienada que deve restringir-se à culinária, à moda, à estética, à luta contra os efeitos do tempo em seu corpo, exclusivamente.

Antes, viviam para os maridos e passaram a viver para si, para depois, viver para a sociedade. Que retrocesso. Será que ainda hoje persistirá a figura da mulher que quer ser sustentada por uma conjuntura além de si? Persistirá a visão de que a conquista afetiva se faz mediante demonstrações de poder e dominação, o que analogamente, se faz com a paga às prostitutas, que por mil vezes, parecem ter, se é que não têm mais dignidade que senhoras aparentemente acima de qualquer suspeita?

A culpa original não mais recai sobre a mulher, pois que ambos à serpe deram ouvidos. Não há mais que oferecer sacrifícios pela humanidade, achando-se culpada eterna da desgraça e da discórdia – ah, Helena. E, agora, onde reside a redenção? A saída se faz mediante a racionalização, primeiro, de sua condição, enquanto construtora também da civilização, o que por anos se fez silenciosamente através da educação dos filhos.

E, a provocação vem a seguir: quantas mais precisarão sucumbir para que se compreenda que mulher não tem a ver com interesse de vil metal como não tem que ver com mera estrutura anatômico-corpórea aceitável pelo padrão estético e que essas coisas acidentais lhes desvirtuam, apesar de aparentemente serem inofensivas? Quanto sangue mais será derramado para que se compreenda que a agressão física ou verbal do companheiro não são demonstrações de amor e cuidado, antes significam a desiderato de dominação por influxo de um profundo complexo de inferioridade e saudades dos carinhos de mãe – Édipo? Quantas precisarão seguir sofrendo vilipêndio da sua dignidade sexual de forma privada e pública, por que é isso o que faz questão a mídia de ostentar? A mulher não pode mais ser tabernáculo de ternura e acolhimento, antes é a personificação da profanação de Sodoma. Quantas e quantas palavras para além das mulheres de Atenas têm de ser proferidas para que se compreenda que ainda se emparedam mulheres e que mulheres que pensam ainda são tidas por bruxas?

E, diante de tudo isso, só algo, enfim, para exortar: mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas, e... não o sigam.