Boas Vindas!

Aos amantes do Direito, enquanto manifestação mais pura da Ética Filosófica, enquanto parte do estudo das Humanidades Clássicas; Aos amantes da Literatura, da Retória e da Estética; Aos amantes do Belo. A todos vocês, inclusive, os curiosos, ofereço este trabalho tão revigorante, as palavras que escondem dentro de si próprias maravilhosos significados, uma verdadeira aventura rumo à contemplação da Realidade, à libertação da mítica caverna de platônica, à redenção do gênero humano que é livre para conhecer, amar e servir.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

A Consciência Humana

O Morcego
Augusto dos Anjos

Meia-noite. Ao meu quarto me recolho.
Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede:
Na bruta ardência orgânica da sede,
Morde-me a goela ígneo e escaldante molho.
"Vou mandar levantar outra parede..."
- Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho
E olho o teto. E vejo-o ainda, igual a um olho,
Circularmente sobre minha rede!
Pego de um pau. Esforços faço.
ChegoA tocá-lo. Minh’alma se concentra.
Que ventre produziu tão feio parto?!
A Consciência Humana é este morcego!
Por mais que a gente faça, à noite, ele entra
Imperceptivelmente em nosso quarto!

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

HOMENAGEM

OS SAPOS
Manuel Bandeira
Enfunando os papos,
Saem da penumbra
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.

Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:

- "Meu pai foi à guerra!"
- "Não foi!" -- "Foi!" -- "Não foi!".

O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: - "Meu cancioneiro
É bem martelado.

Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.

O meu verso é bom
Frumento sem joio
Faço rimas com
Consoantes de apoio.

Vai por cinqüenta anos
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A formas a forma.

Clame a saparia
Em críticas céticas:
Não há mais poesia
Mas há artes poéticas . . ."

Urra o sapo-boi:
- "Meu pai foi rei" - "Foi!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!"

Brada em um assomo
O sapo-tanoeiro:
- "A grande arte é como
Lavor de joalheiro.

Ou bem de estatuário.
Tudo quanto é belo,
Tudo quanto é vário,
Canta no martelo."

Outros, sapos-pipas
(Um mal em si cabe),
Falam pelas tripas:
- "Sei!" - "Não sabe!" - "Sabe!".

Longe dessa grita,
Lá onde mais densa
A noite infinita
Verte a sombra imensa;

Lá, fugindo ao mundo,
Sem glória, sem fé,
No perau profundo
E solitário, é

Que soluças tu,
Transido de frio,
Sapo cururu
Da beira do rio...

1918

ARTIGO INAUGURAL

SER O QUE DEVEMOS SER

O desejo de infinito que carregamos nos mais profundo de nossas almas garante-nos, dentre outras coisas, uma vida para além do contingente, do tempo, do espaço. Uma vida eterna. Por isso que não podemos cessar de olhar para o alto e perceber-nos caminhantes nesta estrada do presente. Isso traz consigo uma responsabilidade: a de sermos o que realmente devemos ser.

Hoje o nosso mundo padece de uma crise estrutural. Não há mais líderes como outrora. Já se foram os ideais sublimes, os valores. A honra e a moral foram substituídas pelos valores da velocidade e do capital. Nesse momento, as pessoas são reduzidas a números e sua dignidade é vilipendiada.

Homens que não sabem quem realmente são estão nas esferas de Poder a exercer a oportunidade e a conveniência segundo o império da egoística razão do bem estar pessoal. Essa é a origem da injustiça, posto que se inicia no próprio homem em face de si mesmo simplesmente porque não sabe a verdade sobre si, enquanto ser e, sem verdade, não pode haver justiça, só há contradição. Apesar de Aristóteles asseverar que o homem n pode conscientemente querer para si o mal. Assim, a imaturidade é camuflada por uma armadura de poder, prazer e possuir. Detém-se conhecimento, bens, prestígio, honrarias que adornam um caráter frágil e detrítico.

O desejo do infinito é desejo de perenidade, de eternidade. E o homem se eterniza nas suas obras. Havard, doou parte de seus bens pelo bem do conhecimento; Nobel, que ainda hoje in memoriam premia as grandes iniciativas. Logo vê-se que o capital em nada dignifica o homem. O homem dignifica-se pelo reto obrar. Quão bom dizer-se: tal pessoa passou fazendo o bem, foi justa, íntegra, honrada. Nesse sentido, criou-se o brocardo: “homem, se queres ser justo, lembra-te que vais morrer”. Lembrar da morte só nos recorda que não somos deuses, que somos homens e mulheres do presente destinados ao infinito.

Efetivamente, não há como se pensar feliz numa vida irrefletida conduzida pela opinião da massa ou pelos apelos da mídia. Será alienada. A verdade há de ser partejada, como relaciona o método Socrático. O homem tem de conhecer a si mesmo. É preciso aventurar-se na louca e alucinada busca do próprio “eu” e ter a audácia de andar na contra-mão, quando preciso. Os exclusivos critérios de estima alheia e respeito humano posteriormente nos frustram, porque existem em detrimento do que deveria ter falado, calado, entendido, propalado. E, mais uma vez, decai a realidade sublime da humanidade diante do contingente, do efêmero.

Eternizemo-nos na Justiça, na Verdade! Enfileiremo-nos como escravos da Justiça, obstinadamente, sem olhar para trás. Assim seremos felizes, eternizando-nos em meio a efemeridade desse século na Justiça, que é eterna. Nesse sentido, muitos problemas surgem colateralmente: o próprio conceito de justiça; a ética, a moral e o tempo; legitimidade dos atos fundados na simples autoridade.

Consumamos mais tempo com a estética, pois a verdade é essencialmente Bela. O tempo é por demais curto diante da eternidade. A moda passa, os desejos instintivos também e assim mesmo passam os valores imperativos do respeito humano e tudo isso é por demais frustrante porque tolhem o homem de crescer. Certa vez disse-me o reitor: “se queres ser feliz, cresce para Deus e para o Saber, pois nesses dois ninguém te poderá tolher”. Onde estão os círculos de pessoas a recitar poesias? A falar de política e filosofia, a debater temas polêmicos e controvertidos? Onde estão os grandes ideais e os projetos de vida?

A grande verdade é que já somos em potência tudo o que anelamos ser. E absolutamente nada pode nos frear nessa aventura a não ser nós mesmos. Terá se apagado a brilhante rubra chama dos grandes oradores? Os pensadores do futuro da Escola do Recife, onde estão? Onde estão os discursos e pensamentos ressonantes outrora contidos pelas abóbadas?

Eis o grande desafio: gerar, primeiro em nós, a paz a qual imprescinde da justiça e, esta, da verdade. Para além, vê-se a sociedade local e a nação. A corrupção de um só homem é prova da corrupção de sua sociedade. É como o religioso que usurpa de suas funções ou o que assume posto de comando ou chefia e exerce arbitrariamente. Tais simbolizam a fragilidade, são a gangrena do imenso e lindo corpo de que fazem parte, o qual fazem muito sofrer.

A ação é o caminho para tudo isso. Chega de infrutífera omissão e de falácias inebriantes. Deixe-se deslumbrar por um novo tempo reluzente descortinado pela mágica razão veraz e autêntica. Viva e deixe viver, ame e deixe amar, entregue e deixe entregar. Provoque-se, questione-se, litigue-se, pugne-se pela autenticidade nas relações pessoais e nas estruturas que o cercam. O mundo não mais precisa de olhos que se cerrem para o tráfico de drogas na esquina, olhar e silêncio criminosos que corroboram com toda a escala do mercado negro que a muitos já sangrou e sangra em nosso país. Não mais se precisa de omissos cientes do vilipêndio da vida, no aborto, contribuindo para o aumento dos brados desumanos sufocados pelo envenenamento salino ou pela abjeta mutilação mecânica dos fetos. Não mais se precisa da omissão que patrocina a violência doméstica. Não mais se precisa do pacto perverso de coação nas estruturas alienantes e retrógradas que temem o novo e o diálogo. E o interessante é notar tais pessoas a pronunciar putrefamente o vocábulo “paz”. Insensatos!
O grande brocardo “o direito não socorre os que dormem” vem incrementar essa abordagem. E somos exortados para com tochas acesas em punho ser o que devemos ser, com olhos no além e pés em solo firme; com firmeza, obstinação e ternura; com coragem, audácia e equilíbrio, incendiar a face desta terra de amor, justiça e verdade!